domingo, junho 25

Vespertina


Devo ter me perdido com o passar dos anos. Lembro-me da menina que adorava Vésper, Lúcifer, a Estrela D'Alva ou, se vocês preferirem, Vênus. Sabia os meses em que poderia achá-la ao amanhecer (madrugava para sorrir-lhe um bom dia). Sabia onde encontrá-la ao fim do dia. Era tão reconfortante vê-la com o pôr-do-sol (em direção das acácias no fim da rua da escola, no único ano que estudei à tarde nesses primeiros de tantos que estive fora de casa) e desejar-lhe boa noite. Da escola para casa eram 15 minutos a pé e adorava quando meu pai não ia me buscar... ia bem devagar, Vésper às minhas costas, a visão da festa de cores da despedida do sol. Vênus anunciando a noite, da mesma forma que traz a luz do sol em algumas épocas, é também mensageira das trevas.
Amo ver essa entidade sem luz a se fingir de estrela: na praia, com a alma lavada do mar, na antiga estrada de areia em frente a casa da minha mãe... Sei mesmo onde vê-la aqui, nessas noites insones onde a manhã me alçanca sem ainda ter fechado os olhos: ela está quase em frente a minha casa, por cima de um sobrado (e lá mora uma coruja que sempre escuto daqui) e eu sentava na janela paras contar-lhe meus segredos.
Mas já faz muito tempo que não nos avistamos! Temo, porém, que em sua brancura e celeste pureza, nem ousasse olhar-me nos olhos outra vez, pois decerto sabe o que tenho feito noite após noite ou a luz do sol a ela revelou meus pensamentos.

2 comentários:

Arklich disse...

seu post me fez lembrar de uma musica que minha mãe me cantava a muito tempo...

Estrela do Mar
compisição: Marino Pinto e Paulo Soledade

Um pequenino grão de areia / Era um eterno sonhador

Olhando o céu viu uma estrela / Imaginou coisas de amor

Passaram anos muitos anos / Ela no céu ele no mar

Dizem que nunca o pobrezinho / Pôde com ela se encontrar

Se houve ou se não houve / Alguma coisa entre eles dois

Ninguém pode até hoje afirmar / O certo é que depois

Muito depois / Apareceu a estrela do mar

Leonardo Nakahara disse...

Acho que por conta desse seu post é que eu escrevi o que escrevi no meu. Lembranças, lembranças ... Será que somos escravos dela? Somos, claro, essencialmente uma soma do que vivenciamos.

Eu tenho medo, no entanto, de às vezes ficar preso ao passado. Não que isso mude, mas pq a saudade às vezes bate forte ...

Tava lembrando hoje do meu avô ... deixa, fico com nó na garganta ao lembrar.

:)

Abraço