quarta-feira, junho 28

Campo de Flores

Uma amiga está me ensinando a gostar de poemas. Me ensinando, sim. Não tenho vergonha em admitir que antes não lia nada a respeito de poemas, não pesquisava nada sobre o assunto. Mas os posts dela em outro blog me fizeram ver como os poemas podem nos tocar. Resolvi, portanto, colocar algo que encontrei na internet, sobre o Carlos Drummond de Andrade.


Nascido em Itabira, Minas Gerais em 1902, Carlos Drummond de Andrade foi muitas vezes apontado como o maior poeta brasileiro do século XX.

Com obras publicadas nos mais diferentes idiomas, se notabilizou pela construção de versos em um linguajar simples e extremamente belo.

"Carlos Drummond de Andrade foi o mais completo poeta brasileiro moderno. Além de poesia, escreveu contos, crônicas e uma novela. Sua obra é uma força da natureza, muito importante para todos aqueles que desejam conhecer o Brasil." ( Armando de Freitas Filho ).


Extraído de culturapara.art.br

Abaixo, Campo de Flores, de Carlos Drummond de Andrade.

Campo de Flores

Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus - ou foi talvez o Diabo - deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.

Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.

Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visáo extasiada.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo sentir algo assim.Eu invejo quem pode desfrutá-lo.

D disse...

hahahha
isso agora é um blog romântico???
isso foi alguma carraspana?(essa é só pra ir procurar no dicionário...hahaha)
"Eu, não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."
Drummond, "Poema de 7 faces"

Anônimo disse...

e essa lua, e esse conhaque???
ai ai ai...
e essa verbena...
carraspanas...
amo muito tudo isso!!!