segunda-feira, agosto 21

Autobiografia sem factos


"Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não- significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.

A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.

Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entre timento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida.

Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objectividade ao prazer subjectivo da leitura.

Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.

Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao ue fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes cegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."


Fernando Pessoa , Livro do Desassossego

domingo, agosto 20

You and Me

Há uns 4 meses (abril ou maio), alguém muito querido pediu para que eu pegasse a discografia de uma banda que, pra variar eu nunca tinha ouvido falar (eu como sempre, alheia a tudo). Lifehouse. baixei quilos de coisas, em junho meu pc morreu e eles se perderam, eu peguei os arquivos outra vez e bem antes dessa de perder arquivos, dei uma sacada na banda, afinal meu amigo gosta de som extremo, mas não era nda disso. Primeiro um "argh", mas gostei de uma delas (Everything) e mandei no dia dos namorados pra galera que eu sei detestar músicas meigas e românticas, por que ela é de cortar os pulsos!
Assumo estar adorando Lifehouse, a despeito de qualquer crítica...(isso acabará com minha reputação).Alías, só ouvi meu amigo falar dela. Como não vejo TV e nem ouço rádio, não sei nada de suas cotações atuais.E nem me importo, pra gostar dela eu não precisei disso mesmo.


You and Me

What day is it? And in what month?
This clock never seemed so alive
I can't keep up and I can't back down
I've been losing so much time

'Cause it's you and me and all the people
With nothing to do, nothing to lose
And it's you and me and all the people
And I don't know why, I can't keep my eyes off of you

All of the things that I want to say
Just aren't coming out right
I'm tripping on words
You get my head spinning
I don't know where to go from here

'Cause it's you and me and all the people
With nothing to do, nothing to prove
And it's you and me and all the people
And I don't know why, I can't keep my eyes off of you

There's something about you now
I can't quite figure out
Everything she does is beautiful
n' everything she does is right

'Cause it's you and me and all the people
With nothing to do, nothing to lose
And it's you and me and all the people
And I don't know why, I can't keep my eyes off of

You and me and all the people
With nothing to do, nothing to prove
And it's you and me and all the people
And I don't know why, I can't keep my eyes off of you

What day is it? And in what month?
This clock never seemed so alive.

(adoro quando ele diz "Porque somos você, eu e todas as pessoas com nada para fazer
nada para perder....Porque somos você, eu e todas as pessoas, com nada para fazer
nada para provar..." É assim que me sinto nesses últimos dias...tão livre e feliz por isso que não entendo por que há os que não ousam buscar a liberdade)

=)