segunda-feira, julho 10

Céu sem nuvens

"Vivi, estudei,amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possivel fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso"

Álvaro de Campos - Tabacaria


Não sei qual bruxaria há em Fernando Pessoa, ou a estranheza em mim ao ler esse poema ( que cada vez é mais cortante). Todas as vezes, todo o tempo. Já me disseram que é como se houvesse uma nuvenzinha negra por sobre minha cabeça, sempre sempre. Mas acho que não. Olho as nuvens pelas janelas do celeiro. Elas não se afastam e me fazem sombra - e escuridão.

E tenho tanto medo parar e organizar minhas idéias e descobrir-me algo sem fé, sem aquelas doces certezas, sem ter por quem chamar quando eu me sentir só ou temer por aqueles a quem amo ou quando coisas boas aconteceram ter um nome a quem dar graças... E ja me senti sujo por isso. Hoje não sinto mais. E isso é tão pior. Eu nem me pergunto quem sou, onde estou, pra onde vou... simplesmente não interessa. Eu sempre tive medo de perder minha fé. E se sempre foi assim é por que eu nunca a tive. Essas nuvens de tempestade não são de hoje. E nem por que não creio elas foram embora. Ainda há algo aqui. E eu nem faço idéia do que seja.Talvez haja mesmo mais que nuvens no céu.


Um comentário:

Leonardo Nakahara disse...

Engraçado ler esse post. Eu que achava que era o único a ter essas dúvidas existenciais. Bem, pretensão muita mesmo achar que só eu tinha essa dúvida ... tsk tsk

Se bem que já estou acostumado a ouvir uma amiga me chamando de pretensioso.

De qualquer forma, eu mesmo já tive essas duvidas e continuo as tendo, de tempos em tempos.

Parece que são ciclos. Vão e vem, e invariavelmente essa dúvida persiste.

Penso se chegarei ao final da minha vida e nada do que fiz terá valido, já que não haverá nada depois daqui.

Espero estar enganado. Senão, qual a verdadeira motivação para nossas vidas patéticas, se voltarmos simplesmente ao pó?