segunda-feira, julho 17

Inquietação I


"Tudo flui, nada persiste. O ser não é mais que vir-a-ser."

Não pretendo rumar pelos caminhos da dialética ou discutir ontologia alguma. Não tenho conhecimento, minhas pretensões nunca foram tão altas. Um adorado amigo filósofo (desses que amamos mesmo com tantos defeitos e brigas quase que diárias, discordando em praticamente tudo... Pra quem leu "O Dia do Curinga", ele é igualzinho o pai do Hans-Thomas, só que viciado em jogo e não em alcool) me disse que isso é um sofisma e eu - logo eu - não deveria nem pensar assim. Nem proferir essa heresia. Sofisma ou não, há impermanência nessa palavras... Estamos sempre a um passo de algo tão mágico e bom ou destruidor, só que não aceitamos e preferimos ficar planta.

Não sei quem nos disse que o certo na vida são coisas imutáveis (até as montanhas mudam e muitas delas viram o começo de tudo, mas elas se desgastam, aumentam, esquentam, gelam, até elas mudam). Por isso tememos a morte ( pareceu meio simplório mais o raciocínio é esse mesmo...) Imaginemm só se ninguém morresse? As pessoas precisam morrem mas não aceitamos. Nunca estamos preparados, mas faz parte do ciclo da existência, em qualquer coisa que se crê ou descrê. A morte não é um mal necessário, é um bem a ser esperado. Nossa existência está mesmo arraigada a essa maneira de enxergar a vida como estática, de temer irracionalmente o que não conhecemos, de não aceitar que as coisas tem um início e por isso também deverão ter um fim. E aqui está a impermanência de novo.

Maldizemos as mudanças, dizemos não ter forças para elas, não existe coragem. Será que é o medo das adaptações que porventura ocorrerão? Ou das incertezas advindas na mudança? Ou se sentir só, isolado ante a vida, como que temendo a conclusão de Deus no Éden "Não é bom que o homem esteja só"...

Engolimos tanta coisa por esse não é bom estar só, pelo medo de dizer um não-quero-mais-e-dane-se-o-que-acontecerá-depois... E nos acostumamos a viver de metades, de restos, do nada que fingimos estar ali... Sem coragem de arriscar num emprego novo ou deixar aquela faculdade que seus pais cismaram que era a sua cara e buscar novos horizontes... Pois ninguém viverá a vida de ninguém ou se você preferir, nas palavras de Aslam de Nárnia " a ninguém será contada a história de outrém"...

Droga! Eu falei, falei e não disse nada... O certo que sempre lembro daqueles monges budistas que passam horas fazendo mandalas lindas, trabalhosas, perfeitas em criatividade e simetria para destruí-las logo depois, com força e decisão, pra lembrar que a vida realmente é impermanência e não devermos ter medo.

E eles não sofrem pelo fim daquilo que criaram por que admitem que um dia a mandala deveria deixar de existir. Não desejam que seja eterna e o não-desejo os libera do sofrimento, dando-lhes força para acabar com o que precisa ter um fim...E quero dizer bem alto "eu não tenho medo" e desejo que assim seja.....

8 comentários:

Anônimo disse...

Como foi dito em Matrix
"All that has a beginning must have an end".

Mesmo assim, não estamos preparados para ele.

Mamãe trainee disse...

É, eu sei que "o pai do Hans-Thomas viciado em jogo" também já me disse que não devemos ficar presos ao "E se.."
"E se não tivesse sido assim ou assado?"
"e se não tivesse acabado?" certas coisas tem que morrer para dar lugar às outras.
E é assim, até que um dia mude. Quem sabe?

D disse...

Aqui, Alguém de quase 25 anos e Nocte, cito Camões
"que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho."
Eu não tenho mais algumas esperanças, pq há pessoas que nunca aceitarão a impermanência, a finitude de tudo e me canso de esperar pela mudança dos que sempre esperarão que tudo melhore - ou piore de vez- para ter certeza do que farão...
Que droga, eu não tô dizendo coisa com coisa...

Nocte Cellariu disse...

Realmente, Verbena, acho que você bebeu...
E Nakahara, há de se buscar o preparo sim...São essas coisas que ficamos para aprender...
Venha para o Celeiro, como Thoreau foi para a floresta...aqui sempre há o que aprender...

Anônimo disse...

Eu tinha escrito um comentario anterior, mas apagou, é por isso q não suporto blogs, a gente escreve algo e depois apaga.
parece-ne que o espaço aqui é livre para escrevermos nossos pensamentos, então, lá vai minhas asneiras.
Eu penso que existe uma necessidade da morte, como foi dito, o que inicia precisa acabar.
Vejo assim poi encaro a morte como tendo duas faces, a biologica e a social.
A biologia é necessário pois não seria o melhor para a espécie se o mais novo e teoricamente mais adaptado tivesse que competir por recursos com o mais antigo e perder apenas por estar cronologicamente inferior, sendo mais claro, um bebê cujos ancestrais sobreviveram a Peste Negra, e por isso carrega essa restencia consigo, morrer de fome porque um egipcio ainda vivente comeu tudo e não deixou nada para o pequeno e fragil bebê que não coseguiu tomar a comida para si.Não sei se fui claro.
Socialmente é mais evidente isso, pois todos passamos váriasa vezes pela morte.Para o adolescente nascer a criança ingenua precisa morrer, para o universitario nascer o secundarista precisa morrer, para o profissional nascer, o universitario precisa morrer, para o adulto nascer, o adolescente tem que morrer.Para tudo na nossa vida precisamos nascer e morrer, tantos nascimentos e mortes são necessárias para nossas tranformações ocorrerm de forma positiva, senão seriamos eternos bebês chorões e dependentes, e nossa espécie se extinguiria em uma geração(que apocaliptico), mas o viés é esse, pensei isso há algum tempo atrás, me lembrei de algumas partes, mas a besteirada ainda esta incompleta, como não tenho paciencia pra blog nem quero encher o saco quem ler, vou ficar por aqui.

Anônimo disse...

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esqueci de assinar
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Nocte Cellariu disse...

Foi uma honra, ilustre pai do Hans-Thomas...

Anônimo disse...

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